
São 1.300 mortos até agora!
O combate em Gaza é uma “guerra de luxo”.
Em comparação com as guerras anteriores, esta é uma brincadeira de criança – bombardeios gratuitos como se praticando – tanques e soldados de artilharia alvejando casas e civis dos seus veículos blindados. Tropas de engenharia de combate destruindo por completo ruas em seus agourentos veículos protegidos sem encontrar uma séria oposição. Um grande, amplo exército está lutando contra uma população indefesa e fraca, com uma organização esfarrapada que tem fugido da zona de do conflito, mal e mal conseguindo se levantar para lutar. Tudo isto deve ser dito abertamente, antes de exultarmos do nosso heroísmo e vitória.
Essa guerra também é uma brincadeira de criança por causa de suas vítimas. Cerca de um terço dos mortos em Gaza, foram as crianças 311, segundo o Ministério da Saúde palestino, 270 de acordo com o grupo dos direitos humanos B'Tselem – do total de 1000 mortos na quarta-feira. Cerca de 1.550 dos 4.500 feridos foram também as crianças de acordo com dados da ONU, que diz que o número de crianças mortas triplicou desde o começou da operação.
Esta é uma proporção muito grande para qualquer padrão ético humanitário.
É suficiente olhar as imagens provenientes do Hospital Shifa e ver a quantidade de crianças queimadas e morrendo de hemorragia. A História tem visto inúmeras guerras brutais tirar inúmeras vidas. Mas a proporção desta horrível guerra, um terço dos mortos serem crianças, não foi vista na memória recente.
Deus não mostra misericórdia sobre as crianças de Gaza, nem o Exército Israelense. Esse é o modo quando uma guerra acontece em uma área densamente povoada, com uma população tão abençoada de crianças. Cerca da metade dos moradores de Gaza tem menos de 15 anos.
Nenhum piloto ou soldado foi para a guerra para matar crianças, mas também não parece que pretendem não matá-las. Eles foram para a guerra depois do Exército já ter matado 952 crianças e adolescentes palestinos desde maio de 2000.
A chocante indiferença da opinião pública para estes números é incompreensível.
Mil apologistas e propagandistas não podem desculpar-se dessa matança criminosa.
Podemos culpar Hamas pela morte de crianças, mas nenhuma pessoa razoável no mundo vai comprar essas ridículas, viciadas mercadorias de propaganda em função das imagens e estatísticas provenientes de Gaza.
Podem dizer que o Hamas se esconde entre a população civil, como se o Ministério da Defesa em Tel Aviv não estivesse também localizado no coração de uma população civil, como se houvesse lugares em Gaza que não estivessem no coração da população civil.
Pode-se também afirmam que o Hamas utiliza crianças como escudos humanos, como se no passado as nossas próprias organizações que lutaram para estabelecer um país não recrutaram crianças para isso.
Uma maioria significativa das crianças mortas na Faixa de Gaza não morreu porque foram usadas como escudos humanos ou porque trabalhou para Hamas. Eles foram mortos por culpa dos bombardeios das Forças Israelenses, do fogo das armas contra eles, suas famílias, seus apartamentos. É por isso que o sangue dos filhos de Gaza está em nossas mãos, e não sobre as mãos do Hamas, e nós nunca poderemos ser capazes de escapar dessa responsabilidade.
As crianças palestinas que sobreviverem vão lembrar-se desta guerra. É suficiente assistir o filme maravilhoso de Juliano Mer Khamis, nascido em Nazaré, As crianças de Arna, para entender o que estamos deixando para os que vivem no meio do sangue e da ruína. O filme mostra os filhos de Jenin - que viram menos horror do que o de Gaza - que crescem e se tornam homens bomba suicidas.
Uma criança que viu sua casa destruída, matarem seu irmão e seu pai, não vai perdoar ser humilhado. A última vez que fui autorizado a visitar a Gaza, em novembro de 2006, fui para a escola infantil Indira Gandhi em Beit Lahia. Os alunos me contaram o que tinham visto no dia anterior, um míssil das forças israelense que atingiu o ônibus da escola e matou sua professora, Najwa Halif, na frente dos seus olhos. Eles estavam em choque.
É possível que alguns deles, agora, tem sido feridos ou mortos.
Gideon Davi
Segundo a AP, a área foi engolfada por fumaça e não ficou claro se alguém ainda está nos prédios, nos quais estavam sediados a agência da ONU para refugiados palestinos, além de escolas e escritórios.
O ataque aconteceu pouco antes de o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se encontrar na cidade israelense de Tel Aviv com a ministra de Assuntos Exteriores israelense, Tzipi Livni.
Com agências internacionais
O governo sionista faz desdém da opinião pública mundial e ridiculariza a ONU, o secretário-geral chegando a Tel Aviv e o exército sionista, violento e arrogante, continua a bombardear instalações, que supostamente, são neutras.
A cada dia fica mais evidente que o que Israel pratica contra os palestinos é um crime contra toda a Humanidade! Basta!
Quem justifica essa guerra justifica todos os crimes. Quem prega mais guerra e crê que haja justiça em assassinatos em massa perde o direito de falar de moralidade e humanidade. Esse tipo de atitude é perfeita representação das duas caras de Israel, sempre alertas, ao mesmo tempo: praticar qualquer crime, mas, ao mesmo tempo, auto-absolver-se, sentir-se imaculado aos próprios olhos. O artigo é do jornalista israelense Gideon Levy.
Gideon Levy
Essa guerra, talvez mais que as anteriores, está expondo as veias profundas da sociedade de Israel. Racismo e ódio erguem a cabeça, o vingancismo e a sede de sangue. A "tendência do comando" no exército de Israel hoje é matar, "matar o mais possível", nas palavras dos porta-vozes militares, na televisão. E ainda que falassem dos combatentes do Hamas, ainda assim essa disposição seria sempre horrenda.
A fúria sem rédeas, a brutalidade é chamada de "exercitar a cautela": o apavorante balanço do sangue derramado – 100 palestinos mortos a cada israelense morto – não levanta questões, como se Israel tivesse decidido que o sangue dos palestinos vale 100 vezes menos que o sangue dos israelenses, o que manifesta o inerente racismo da sociedade de Israel.
Direitistas, nacionalistas, chauvinistas e militaristas são o bom-tom da hora. Ninguém fala de humanidade e compaixão. Só na periferia ouvem-se vozes de protesto – desautorizadas, descartadas, em ostracismo e ignoradas pela imprensa –, vozes de um pequeno e bravo grupo de judeus e árabes.
Além disso tudo, soa também outra voz, a pior de todas. A voz dos cínicos e dos hipócritas. Meu colega Ari Shavit parece ser o seu mais eloquente porta-voz. Essa semana, Shavit escreveu nesse jornal ("Israel deve dobrar, triplicar, quadruplicar a assistência médica em Gaza", Haaretz, 7/1): "A ofensiva israelense em Gaza é justa (...). Só uma iniciativa imeditata e generosa de socorro humanitário provará que, apesar da guerra brutal que nos foi imposta, nos lembramos de que há seres humanos do outro lado."
Para Shavit, que defendeu a justeza dessa guerra e insistiu que Israel não poderia deixar-se derrotar, o custo moral não conta, como não conta o fato de que não há vitória possível em guerras injustas como essa. E, na mesma frase, atreve-se a falar dos "seres humanos do outro lado".
havit pretende que Israel mate e mate e, depois, construa hospitais de campanha e mande remédios para os feridos? Ele sabe que uma guerra contra civis desarmados, talvez os seres mais desamparados do mundo, que não têm para onde fugir, é e sempre será vergonhosa. Mas essa gente sempre quer aparecer bem. Israel bombardeará prédios residenciais e depois tratará os feridos e mutilados em Ichilov; Israel meterá uns poucos refugiados nas escolas da ONU e depois tratará os aleijados em Beit Lewinstein. Israel assassinará e depois chorará no funeral. Israel cortará ao meio mulheres e crianças, como máquinas automáticas de matar e, ao mesmo tempo falará de dignidade.
O problema é que nada disso jamais dará certo. Tudo isso é hipocrisia ultrajante, vergonhoso cinismo. Os que convocam em tom inflamado para mais e mais violência, sem considerar as consequências, são, de fato, os que mais se autoenganam e os que mais traem Israel.
Não se pode ser bom e mau ao mesmo tempo. A única "pureza" de que cogitam é "matar terroristas para purificar Israel", o que significa, apenas, semear tragédias cada vez maiores. O que está sendo feito em Gaza não é desastre natural, terremoto, inundação, calamidades em que Israel teria o dever e o direito de estender a mão aos flagelados, mandar equipes de resgate, como tanto gostamos de fazer. Toda a desgraça, todo o horror que há hoje em Gaza foi feito por mãos humanas – as mãos de Israel. Quem tenha mãos sujas de sangue não pode oferecer ajuda. Nenhuma compaixão nasce da brutalidade.
Pois ainda há quem pretenda enganar a todos todo o tempo. Matar e destruir indiscriminadamente e, ao mesmo tempo, fazer-se de bom, de justo, de homem de consciência limpa. Prosseguir na prática de crimes de guerra, sem a culpa que os acompanha sempre. É preciso ter sangue frio.
Quem justifica essa guerra justifica todos os crimes. Quem prega mais guerra e crê que haja justiça em assassinatos em massa perde o direito de falar de moralidade e humanidade. Não existe qualquer possibilidade de, ao mesmo tempo, assassinar e reabilitar aleijados. Esse tipo de atitude é a perfeita representação das duas caras de Israel, sempre alertas, ao mesmo tempo: praticar qualquer crime, mas, ao mesmo tempo, auto-absolver-se, sentir-se imaculado aos próprios olhos. Matar, demolir, espalhar fome e sangue, aprisionar, humilhar – e sentir-se bom, sentir-se justo (sem falar em não se sentir cínico). Dessa vez, os senhores-da-guerra não conseguirão dar-se esses luxos.
Quem justifique essa guerra justifica todos os crimes. Quem diga que se trata de guerra de defesa prepare-se para suportar toda a responsabilidade moral pelas consequências do que faz e diz. Quem empurra os políticos e os militares para ainda mais guerra, saiba que carregará a marca de Caim estampada na testa, para sempre. Os que apoiam essa guerra, apóiam o horror.
Texto publicado no jornal Haaretz.
Tradução: Caia Fitipaldi
Egoísmo coletivo
MATEUS SOARES DE AZEVEDO
Politicamente, o sionismo pertence à família dos totalitarismos ultranacionalistas, em sua modalidade "judaica" |
1896 - O judeu-austríaco Theodor Herzl (1860-1904), numa reação ao anti-semitismo, publica o livro “O Estado Judeu” em que defende a criação de um Estado nacional judaico, transformando o sionismo, de difusa aspiração mística em ideal político concreto. Inicia-se a migração, patrocinada por banqueiros, de judeus à Palestina.
1923 - Os judeus somam a 11% do total da população da Palestina.
1948 - Ano da criação do Estado de Israel, os judeus controlam 75% da Palestina, cerca de 700.000 palestinos são levados para campos de refugiados.
1967 - Israel invade o Sinai, Gaza, as colinas do Golan (Síria) e Cisjordânia, se intensifica a política da construção de assentamentos desconsiderando todos os direitos dos árabes ali reidentes e expulsando-os das suas localidades. A população árabe na região se reduz a 13% de um total de 2,3 milhões de habitantes.
2009 - Israel controla 90% do território palestino, 1,3 milhões de palestinos encontram-se encurralados em Gaza e 3 milhões vivem em campos de refugiados.