terça-feira, agosto 31, 2010

Delfim Neto - Lula a ousadia

http://www.cartacapital.com.br/politica/a-ousadia-de-lula

A ousadia de Lula --- Delfim Netto

Diante de uma crise que afetou a confiança, o presidente soube evitar que os empresários jogassem na retranca e salvou empregos no País

Uma das grandes diferenças que marcaram as tentativas de recuperação econômica do Brasil em relação ao resto do mundo durante a crise de 2008/2009 foi a sustentação do emprego. A rede de proteção que se estabeleceu com a exoneração tributária para que as empresas pudessem continuar trabalhando resultou na manutenção dos empregos e dos níveis de consumo.

Foi a recuperação da confiança no funcionamento da economia que permitiu o forte crescimento do PIB já no primeiro trimestre de 2010, acompanhado de um persistente aumento

do nível de emprego. Isso não aconteceu em nenhum país. Nem nos EUA nem na Europa, talvez com uma única exceção na Alemanha.

O fator confiança é fundamental para dar maior tranquilidade à economia, porque, quando o trabalhador não sente medo de perder o emprego, ele fica um pouco mais ousado nos seus hábitos de consumo. A expansão do consumo, como está acontecendo no Brasil, é fundamental para restabelecer o dinamismo do circuito econômico.

A característica principal das crises econômicas, especialmente quando derrubam rapidamente os mercados financeiros, é a falta de confiança que toma conta das pessoas. A primeira vítima é sempre o emprego. Na atual crise, 30 milhões de postos de trabalho ao redor do mundo deixaram de existir, a economia mundial entrou em recessão e o consumo desabou, porque: 1. Como você não confia em mim, eu não confio em você. 2. Logo, quando recebo o salário, compro menos do que preciso e guardo um restinho, com medo de perder o emprego. Mas, ao não gastar um pedaço do salário, eu deixo de dar emprego para alguém que estaria produzindo o bem que eu compraria, mas não comprei. Recebi o salário na fábrica de tratores; vou comprar feijão, arroz, roupas. Se eu deixar de comprar roupas, o produtor de algodão, do fio, o fabricante do tecido e os que vendem a roupa recebem menos recursos.

Todos passam a ter atitudes mais cautelosas em relação ao consumo, ou seja, o medo se estabelece no nosso meio. Perdemos a confiança uns nos outros. A crise é essa coisa simples que muitos países ainda não levaram em conta desde o começo da tragédia.

O Brasil enfrentou a crise, a economia resistiu ao tranco e se recuperou por uma ousadia do presidente Lula. Naqueles momentos de grande constrangimento, quando todo mundo só pensava em se proteger, em guardar, em ficar líquido, o trabalhador evitando gastar, o empresário adiando investimentos, o banqueiro sem emprestar, ele veio e disse: “Não, nada disso, vamos tocar para frente que a coisa vai funcionar. Se você, por medo de perder o emprego, deixar de comprar, aí, sim, você vai ficar desempregado”.

A aceitação dessa forma de comportamento restabeleceu o circuito econômico: eu pago você, que paga ao Joaquim, que empresta ao José, que me paga… e, assim, esse circuito foi retomando a atividade. É por isso que a engrenagem da economia brasileira não deixou de funcionar, quando quase todo mundo derrapava e ainda luta para reencontrar a trilha.

Em termos bastante simples, foi o que aconteceu no Brasil, melhor do que aconteceu no restante do mundo. Restabeleceu-se a confiança entre os brasileiros muito mais rapidamente do que nos demais países e esse, inegavelmente, foi o fator decisivo. Hoje podemos comparar os resultados e dizer que demos um belo tombo nos analistas e especuladores que apostaram pesado contra a estratégia brasileira.

Não adianta tentar esconder que, aqui, o fator catalítico foi a ousadia do presidente Lula. Diante do assédio externo, ele se apoiou naquele mandamento do esporte predileto dos brasileiros, segundo o qual, a melhor defesa é o ataque, para neutralizar o desafio da onda corrosiva que invadira os mercados financeiros, fechando empresas e consumindo empregos.

Antes que os empresários passassem a jogar na retranca, ele mobilizou as equipes dos ministérios econômicos para desengavetar rapidamente a cenoura do diferimento de impostos, oferecendo-a como contrapartida da garantia da manutenção dos empregos. E não hesitou em endurecer o jogo nas poucas ocasiões em que o governo não encontrou a receptividade esperada.

Lula arriscou todo o seu capital de popularidade com uma mensagem direta, sem rodeios, acolhida rapidamente pelos trabalhadores, empresários e pela população em geral. Venceu a descrença inicial, atropelou a oposição de comentaristas e analistas econômicos que acreditaram na virada de jogo contra o Brasil, mas perderam o fôlego ante a subida espetacular dos índices de aceitação de seu governo.

sexta-feira, agosto 27, 2010

Liberdade de Expressão - A verdade, a mentira

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=604JDB015

Grande artigo de Washington Araújo no site www.observatoriodaimprensa.com.br

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
O contrabando ideológico

Por Washington Araújo em 26/8/2010

Se existe um assunto que absolutamente não me apetece é essa conversa de que no Brasil se encontram ameaçadas a liberdade de expressão, liberdade de opinião e liberdade de imprensa. Primeiro porque a confusão é grande e nem o editorialista nem o comentarista designado para o mister faz o menor esforço para separar uma de outra, é tudo jogado no mesmo saco das intenções veladas.

Para aproveitar o bordão presidencial, tomo a liberdade de, solene como sói acontecer, declarar que nunca antes na história deste país se usufruiu de tanta liberdade – opinião, expressão, imprensa – como nos dias atuais. E nem se precisa ir muito longe para autenticar essa minha percepção já que se trata de algo facilmente verificável.

Se o leitor desejar fazer uma amostragem na seara das revistas semanais de informação, basta acessar o acervo digital de Veja ou de Época e, em rápido cotejo, verificará diversas matérias de capa ora condenando o presidente, ora o seu governo, ora o seu partido, ora a sua coligação. Algumas das recentes edições do carro-chefe da Editora Abril trouxeram na capa, sempre carregando na cor vermelho-escarlate, chamadas como "Lula, o mito, a fita e os fatos" (edição 2140), "O monstro do radicalismo" (edição 2173), "Ele cobra 12% de comissão para o PT" (edição 2156) ou "Caiu a casa do tesoureiro do PT" (edição 2155).

E até o mensalão candango, que engolfou a última cidadela governamental do Democratas em fins de 2009, mereceu capa que longe de trazer à mente o partido demista fazia nada sutil remissão ao partido do presidente. Oportuno recolher a desfaçatez com que vistoso colunista da revista Veja (26/11/2009) se referiu à candidata governista. Seu texto abria assim: "A fraude que virou candidata à presidência anda propondo que o país compare Fernando Henrique a Lula..."

Ficção e realidade

O mesmo poderá ser feito com os jornais de maior tiragem diária do país, como O Globo, a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo. São mais de oito anos de luta cerrada, quando não agredido em editoriais sob medida para criticar essa ou aquela frase do presidente, sempre ânimo redobrado para fustigar essa ou aquela política pública.

Vejamos o que escreve o principal comentarista de política do jornal O Globo, Merval Pereira. Em apenas dois meses não deixou de vociferar o que crê seja digno de nota e remissões: a alcunha que criou para Dilma Rousseff, a laranja eleitoral. Destaco os seguintes excertos de sua coluna em que o tema é temperado e retemperado pelo maduro articulista:

** "Os discursos nas convenções do PT e do PSDB, no fim de semana passado, revelam com clareza qual será o tom da campanha presidencial daqui para a frente, quando já temos candidatos oficiais e não simples pré-candidatos, como a esdrúxula legislação eleitoral definia até então. De um lado, a candidata oficial, Dilma Rousseff, transformada pelo próprio Lula em sua ‘laranja’ eleitoral; de outro, o tucano José Serra atacando o PT, a falta de experiência da adversária, mas só se referindo a Lula de maneira indireta." ("Meu nome é Dilma", 15/6/2010)

** "A verdade, porém, é que mesmo que a candidata oficial Dilma Rousseff alegue que não compartilha essas propostas, elas fazem parte de uma espécie de código genético da ala mais radical do petismo, da qual ela já era figura proeminente antes mesmo de surgir do bolso do colete de Lula para ser impingida ao eleitorado como sua ‘laranja eleitoral’." ("Contradições", 06/7/2010)

** "A candidata petista, por seu turno, tem alguns desafios importantes pela frente, o principal deles o de convencer o eleitorado de que o seu eventual primeiro mandato será o terceiro de Lula, o que pode transformá-la em uma mera ‘laranja eleitoral’ do seu mentor. O que pode agradar a certo eleitorado, e afastar outro." ("O predomínio eleitoral", 16/7/2010)

** "Serra está à procura de temas que sirvam para atacar o governo Lula sem atacar o próprio, enquanto Dilma a cada dia valoriza mais o papel de ‘laranja eleitoral’ de Lula, recusando-se a aprofundar o debate de políticas governamentais, passando apenas a única mensagem que interessa, a da continuidade do governo Lula." ("Quem é quem", 11/8/2010)

** "É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de ‘bom e ótimo’ nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua ‘laranja eleitoral’, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será." ("Zona de conforto", 17/8/2010)

E para defender sua ideologia liberal, vale tudo. Destaco o seguinte diálogo (que me foi enviado pelo leitor D.M.S.) de recente capítulo na novela Paraíso, da TV Globo. Observem como personagens de ficção avançam para além de qualquer trama para tratar do que consideram ser a realpolitik. E como vem sendo cada vez mais corriqueiro contrabandear ideologia e crítica política através de personagens que, bem ou mal, caem nas graças do povo:

Atriz: "Vamos perfurar um poço de petróleo aqui na cidade"

Ator: "Você não é candidata a presidente da república. Nem presidente da Petrobras"

Atriz: "Quanto custa pra perfurar um poço de petróleo?"

Ator: "Muito..."

Atriz: "Mais de mil escolas?"

Ator: "Bota mil nisso..."

Atriz: "Mais de mil hospitais?"

Ator: "Bota mil nisso... Em vez de gastar dinheiro perfurando poço de petróleo, a gente poderia encher de escolas, hospitais..."

(Pausa para os comerciais).

Irônico que a primeira empresa que surge fazendo seu comercial é a própria Petrobras, Coisas do Brasil?

Argumento anêmico

A revista Época também segue à risca o script que deseja cumprir. Para ilustrar cito recente edição (nº 639, de 14/8/2010) em que a capa é a foto da jovem Dilma Rousseff, em princípios dos anos 1960. A manchete é lúgubre: "O passado de Dilma", com a explicação que mais ameaça que esclarece qualquer coisa: "Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar" (ver, neste Observatório, "Revista ignora a anistia").

A "matéria" lista perguntas que, segundo a revista, a candidata se recusa a responder. Tudo no elevado estilo "intimidação sempre rende resultados". Ao leitor imparcial fica evidente e enorme forma de marginalização que a mídia tenta aplicar à figura da candidata. Até a ditadura brasileira é assumida pela revista, mesmo que indiretamente, como tendo ocorrido. As questões que a revista trata de cobrir – com o véu de suspeição em estado bruto – representam torpe tentativa de criminalizar a candidata e, para tanto, não hesitam em minimizar o contexto dando conta que o país vivia tenebroso período ditatorial. Escamoteou-se que Dilma desceu do muro e teve a coragem de decidir em que lado estava: a luta contra o arbítrio.

O colunista da Folha de S.Paulo Fernando Barros e Silva, na edição de 1/6/2010 do jornal, escreveu texto com o título "O Bolsa-Mídia de Lula". Profissional talentoso, Fernando não é só um articulista, mas também editor. E, por ele passam as mais relevantes decisões editoriais do jornal paulista. Pois bem: no texto, Fernando repercute matéria da própria Folha, que demonstra como Lula pulverizou a verba publicitária do governo: em 2003, 179 jornais receberam verbas federais; em 2008, foram 1.273. Lula fez o mesmo com rádios e com a internet. Com esse raciocínio inicial era de se esperar qualquer coisa menos um petardo como o que ele arremessou a seguir:

"(...) a língua oficial chama [a tal pulverização de verbas] de regionalização da publicidade estatal e vende como sinal de ‘democratização’. Na prática, significa que o governo promove um arrastão e vai comprando a mídia de segundo e terceiro escalões como nunca antes nesse país."

É daqueles casos em que o texto não faz jus ao talento do autor. Argumento tão raquítico, anêmico faria qualquer um de nós, Jecas Tatus do Brasil profundo, pensar com seus botões: "Ué, quer dizer que quando a verba ia só para o ‘primeiro escalão’ (onde, suponho, Fernando inclui a Folha, onde ganha o sustento diário) os governos anteriores a 2003 estavam simplesmente ‘comprando a mídia’? É isso mesmo? Tal pensamento não carrega em seu cerne a idéia de desejar ser comprado sozinho sem se expor às agruras de um capitalismo com concorrência?"

Contra e a favor

Dia sim e dia não também, incluindo telejornais noturnos e madrugadeiros, somos bombardeados aos longos das semanas, meses e anos com a mais ampla liberdade de expressão. É sob a égide dessa preciosa liberdade que proliferam os insultos de baixo e alto calados. Termina sendo também a inconfessável defesa de seus valores antípodas. Como o destempero verbal (e escrito), o ataque infamante – quando não apenas calunioso – busca a cabal sujeição de suas vítimas à mais completa impotência ante o formidável aparato de comunicação com suas sentenças formadas antes mesmo de o crime haver sido pensado. Sentença que será repercutida por seus pares à exaustão, dando assim ares de legitimidade ao que não passa de mera luta para manter seu poder nas auriverdes esferas da política e da economia.

Infelizmente tenho que reconhecer que nossos meios de comunicação de massa não revelam a realidade, mascaram-na; eles não ajudam a gerar mudança, transformações e, ao contrário, ajudam a evitá-la. Pior ainda, nossos meios estão bem longe de incentivar a participação democrática. São muito mais afeitos a nos levar à passividade, à resignação e ao egoísmo. Apropriam-se das bandeiras mais caras ao espírito humano – justiça, liberdade – para torná-las reles mercadorias de troca em sua incessante luta pelo poder, cada vez mais inconstante, cada vez mais fugidio.

Em 2002, em almoço nas dependências do jornal Folha de S.Paulo, seu diretor Otavio Frias Filho sapecou a questão para Lula: "Como é que o senhor vai governar o Brasil se não fala inglês?" Passados oito anos chegamos à conclusão que no caso talvez falar inglês pesasse contra, e não a favor, do então candidato à presidência do Brasil. É possível que, ainda nos próximos 40 dias, atendendo a convite para hipotético almoço no mesmo jornal, seu diretor de Redação sinta-se à vontade para perguntar a Dilma Roussef:

"Como é que a senhora vai governar o Brasil se não fala a nossa língua?"

quinta-feira, agosto 26, 2010

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO _ Vinicius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A Mídia quer por fogo no circo

O jornalista Josias de Souza em sua análise publicada hoje na FSP sob o título - Seja quem for que ganhar a eleição partidos aliados farão a festa - tenta influenciar o leitor com a idéia de que as alianças políticas, na verdade são ações entre amigos.

Josias mostra um analfabetismo político ou má fé. No atual sistema político brasiliero é impossível um governante, um partido, governar sem alainças. É impossíel sem alianças pré-estabelecidas conseguir uma relação satisfatoria, principalmente com o poder Legislativo, Câmara Federal e Senado.

O desenho político de alianças no Brasil, da forma como se encontra, foi assentuado fortemente pelo período ditatorial que se primou na fórmula toma lá, dá cá. Essa postura criou lideranças fisiológicas que até hoje atuam na política nacional, e jogam conforme as suas conveniências e pelo peso de influenciar a opinião pública, impõem aos que governam limites de ação.

O governo FHC, nas alianças que realizou com PMDB e o atual DEM, perdeu o controle político e, também por interesses escusos como a reeleição e as privatizações, rifou todos os ideais dos sociais democratas. FHC e as lideranças do PSDB levou o partido a perder a sua identidade, perder o contato com o povo, optou com essa ação pela elite que escraviza esse país a séculos.

Lula no seu governo também fez alianças, mas qual a diferença entre Lula e FHC nesse aspecto. A diferença é que Lula conteve a ganância dos aliados, Lula deu os anéis, não perdeu a mão.

Ao contrário de FHC, Lula aproximou-se do povo e essa é a verdadeira alainça, aliança que coloca limites aos aliados. O povo está mudando esse país e o instrumento dessa mudança é Lula e o PT.

O colunista no seu artigo quer passar a imagem de que tudo é igual e se é igual com Serra será menos igual.
Abaixo transcrevo o artigo:

ANÁLISE

Seja quem ganhar a eleição, partidos aliados farão a festa


ESCORADOS EM ALIANÇAS EXTRAVAGANTES, DILMA E SERRA COMPROMETEM, JÁ NA CAMPANHA, A CAPACIDADE DE SE FIRMAREM COMO LIDERANÇAS ÉTICAS


JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

O fisiologismo deixou de ser percebido como parte do sistema político brasileiro. Passou a ser entendido como o próprio sistema.
A reiteração do fenômeno conferiu ao anormal ares de normalidade. Em nome da pretensa "governabilidade", o absurdo passa por natural.
A campanha atual, marcada pela ausência de oposição a Lula, vai ao verbete da enciclopédia como marco estético na história das eleições.
O Brasil, que nunca tivera políticos de direita, perdeu também os que ainda se diziam de esquerda. Restou um imenso centrão.
Dilma Rousseff e José Serra são prisioneiros de um paradoxo. Prometem a continuidade do "avanço" atrelados ao atraso.
Mantém-se agora agora o ciclo que FHC batizara de "realismo". Em meio ao surto de amnésia, ninguém se lembra mais do que escreveu, disse ou fez no passado.
A Brasília dos últimos anos firmou-se como templo de um sistema administrativo que gira em torno de privilégios, verbas e empregos.
Tancredo Neves teve a sorte de morrer antes de por em prática a armadilha que engendrara. Herdeiro dos acordos, José Sarney honrou-os.
Acossado pelo impeachment, Fernando Collor renovou-os. Itamar Franco preservou-os. E Fernando Henrique Cardoso vestiu-os com traje intelectual.
Situou o anômalo num ponto qualquer entre as duas éticas de Max Weber, a da convicção e a da responsabilidade. Ao chegar ao Planalto, em 2002, Lula trazia na face a ilusão da novidade.
Dizia-se que, menos inepto que Sarney, mais honesto que Collor, menos transitório que Itamar e mais firme que FHC, teria autoridade para deter a sanha fisiológica.
Deu-se o oposto. O calor de urnas logo se esvaiu no chão frio e escorregadio do dia-a-dia administrativo. A aparência de super-homem derreteu no mensalão.
Vencido o ritual da eleição, os partidos consideram-se credenciados a avançar pelas estruturas do Estado. Em troca do apoio, pedem, exigem, chantageiam.
De um líder se espera que fixe padrões morais. Escorados em alianças extravagantes, Dilma e Serra comprometem, já na campanha, a capacidade de se firmarem como lideranças éticas.
No Brasil, aliança política tornou-se sinônimo de coligação partidária com fins lucrativos. Os partidos são movidos à base de certeza.
Sabem que, seja quem for o eleito, voltarão a entoar Ivete Sangalo, em 2011: Vai rolar a festa. Ou, por outra: a festa continuará rolando.
Olá...
Vou retomar os post no blog...
Os temas serão políticos, vinculados a eleição presidencial que está por vir
Desde já torno claro o meu voto
DILMA - Presidente
MERCADANTE - Governador
MARTA E NETINHO - Senadores

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